Desde pequena sempre tive dificuldade em tomar decisões. Sou muito determinada, mas meu lado emocional, até hoje, vive brigando com o meu lado racional e isso acaba me atrapalhando. Por exemplo: na hora em que o pipoqueiro perguntava se eu queria pipoca doce ou salgada, eu ficava na dúvida e acabava pedindo pra ele misturar as duas, colocando a salgada embaixo e a doce em cima com bastante leite condensado. Quando tenho que escolher entre dois filmes na locadora, acabo levando os dois ou alugando um no dia e o outro no dia seguinte. Até hoje, se chego numa loja e gosto muito de uma roupa ou de um sapato, fico um tempão namorando até me decidir. Aconteceu recentemente, com um vestido que eu vi num catálogo e demorei quase um mês pra querer realmente comprá-lo. Para minha grande surpresa e decepção o vestido já tinha acabado em todas as lojas. A última grande decisão que tive que tomar era relacionada à minha vida profissional. Pensei muito e acabei recusando a proposta que me foi feita com medo de não dar conta do recado. Depois de uma semana, comecei a analisar direitinho e lembrei de uma frase que ouvi outro dia numa reunião budista: “Por mais que você não esteja escalando a montanha que você quer, esforce-se ao máximo e suba até o topo, pois quando você for escalar a sua montanha já estará com os músculos fortalecidos”. Conclusão da história: me arrependi . E acho que poderia ter arriscado, pois só existem duas possibilidades na vida: ou dá certo ou não dá. Se der, ótimo. Se não der, ninguém sairá perdendo. Muito pelo contrário, somos capazes de aprender, às vezes[B2] , até mais com nossos erros do que com os acertos. Acho que, depois disso, acabei me fortalecendo e vendo que a vida é isso: inconstante e cheia de desafios que nos testam diariamente. Só que, agora, estou quase numa sinuca de beco, pois a decisão que tenho que tomar envolve outra pessoa e muitos sentimentos. Sinto-me como se estivesse num nível mais elevado do jogo. E esta seria a hora em que eu venceria e mudaria de fase, ou cairia num abismo e voltaria para o início. Essa, provavelmente, será uma semana em que meu pensamento não estará presente em todos os lugares nos quais eu estiver. É como se o tempo estivesse passando rápido demais e ao mesmo tempo lento para decidir uma coisa tão complicada. Quero muito tomar a decisão correta. Desta vez, não dá para experimentar a pipoca dos dois sabores ou levar os dois filmes pra casa. Não quero magoar outra pessoa nem tão pouco desvalorizar seus sentimentos prolongando o tempo de espera, por causa de uma indecisão minha. E não quero mais levá-la como obstáculo para a fase seguinte da minha vida.
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Há 10 anos